quinta-feira, 1 de setembro de 2011

E quem é que eu levaria aos Campeonatos do Mundo?

Apesar de ser a Volta a Espanha a prova mais importante a disputar no final de Agosto/início de Setembro, aproxima-se outra das provas mais aguardadas da temporada: os Campeonatos do Mundo. Por agora, ainda não foram anunciados quais serão os seleccionados para representar as cores nacionais (nem sequer os pré-seleccionados) e então parece-me uma boa altura para fazer este exercício: se eu fosse seleccionador nacional, quem é que eu convocaria para estes Mundiais?

Como certamente vários leitores também gostam de criticar (positiva ou negativamente) o seleccionador nacional, lanço aqui o convite a participarem e a dizerem também vocês quem convocariam.

Características da prova e da nossa selecção

Antes de escolher os seleccionados, há três factores que considero muito importantes: a dificuldade do circuito, a distância da prova e a sua data.

A dificuldade do circuito
É algo que às vezes parece ser ignorado por quem faz as convocatórias portuguesas, já que no ano passado levou o Samuel Caldeira para um percurso demasiado duro para as suas características e em 2006 levou quatro trepadores (Nelson Vitorino, Rui Sousa, Nuno Ribeiro e José Rodrigues) para um Mundial acessível a sprínters. Todos eles têm/tinham qualidade para estar em Mundiais, mas foram escolhidos em anos em que o percurso não era para as suas características.

Olhando aos dados que nos são fornecidos sobre o circuito deste ano (vídeo e perfil presentes a seguir), não há dificuldades de relevo, apenas curtas e pouco pronunciadas subidas que só farão estragos pelo acumular de quilómetros e repetições.




A distância da prova
A distância a percorrer em Campeonatos do Mundo pouco varia de ano para ano, andando entre os 260 e 270 quilómetros. Portanto os 266 quilómetros que os elites terão que percorrer em Copenhaga não será uma nova dificuldade mas sim uma dificuldade bem conhecida por parte dos corredores das equipas portuguesas, que durante o ano nunca se aproximam dessa distância em competição e cada vez têm menos etapas a ultrapassar os duzentos quilómetros.

A data da prova
Os Mundiais realizarem-se no final de Setembro (a prova em linha dos elites será dia 25) é também uma contrariedade para os corredores de equipas portuguesas, visto que a última prova “a sério” foi a Volta a Portugal, que terminou a 15 de Agosto. É impossível os corredores chegarem aos Mundiais em forma se estiverem seis semanas sem competir, exceptuando alguns critérios de poucos quilómetros.

Quem seleccionaria eu

Atendendo a estas três características da prova, os portugueses que correm em equipas estrangeiras estão em vantagem, pois estão mais habituados a largas distâncias e têm tido competição constante, pelo que deverão estar em melhor forma. Porém, Tiago Machado deverá sair muito desgastado da Vuelta, pois terá que dar tudo de si até ao final da prova e não deverá estar em condições de estar em Copenhaga (como o próprio já disse). Relativamente ao Sérgio Paulinho e ao Nelson Oliveira, depende de como se desenrolar o que resta da Vuelta. Quanto ao Paulinho talvez alegue o cansaço da Vuelta para falhar os Mundiais e quanto ao Nelson Oliveira, a meu ver, apenas deveria disputar o contra-relógio.

O Nelson só tem 22 anos, mas como representa uma equipa World Tour estará impedido de disputar os Mundiais na categoria sub-23, onde poderia lutar pelas medalhas no contra-relógio e fazer uma boa prova em linha. Uma vez que só poderá correr junto aos elites, não me parece que tenha muito a acrescentar na prova em linha, já que para alguém tão jovem a Vuelta deverá deixar as suas marcas (a não ser que se trate do Sagan, Degenkolb ou outro desses precoces). Contudo, para redução de custos, compreendo que os dois corredores que disputarão a prova de contra-relógio façam parte dos seleccionados para a prova em linha. Se assim for, ou o Nelson compete nas duas, ou é nenhuma.

Já o Manuel Cardoso realizou a Volta à Polónia, o Eneco Tour, duas clássicas World Tour e creio que continuará a competir nas próximas semanas, podendo estar em Copenhaga em boa forma. Após os Nacionais, Bruno Pires teve um grande período sem competir, para recarregar baterias, mas já se mostrou em muito boa forma recentemente, tem duas clássicas World Tour no seu programa próximo e também poderá estar em boa forma nos Mundiais. Quem também teve direito a descanso foi Rui Costa, após a Volta a França, tendo já regressado á competição e sendo de prever que continue a fazer parte dos planos da Movistar para as próximas semanas. Já José Mendes correu a Volta à Polónia sem mostrar grande condição física, depois disso estava listado para uma série de clássicas na Itália mas apenas aparece na classificação de uma (ou não esteve, ou desistiu nas restantes) e agora está na Semana Ciclista Lombarda. Apesar de correr no estrangeiro, a sua equipa não costuma participar nas grandes clássicas e por isso não tem a mesma vantagem dos restantes relativamente a ter realizado provas de grande nível e quilometragem.

De entre os corredores do pelotão nacional, há dois que entrariam de caras na minha selecção: Sérgio Ribeiro e André Cardoso. O André Cardoso porque nas duas últimas edição dos Mundiais mostrou que tem capacidade para andar com os melhores durante 260 km, sendo 17º e 15º. E o Sérgio Ribeiro porque é quem, a par do Manuel Cardoso, melhor se adapta a um final como o destes Campeonatos, que não sendo muito duro apresenta alguma inclinação. No entanto, o Sérgio também merecia estar presente nos Mundiais de 2006 e de 2010 e em nenhum deles foi convocado.

A participação da selecção nacional na Volta a Tenerife tem grande importância, pois permite que aqueles corredores mantenham um bom nível de forma para os Campeonatos do Mundo, colocando os sete em vantagem para um lugar em Copenhaga (relembro, são César Fonte, Filipe Cardoso, Ricardo Vilela, Ricardo Mestre, Bruno Silva, Rui Sousa e o sub-23 João Pereira). Além dessa prova, apenas outra poderá servir de preparação para os Mundiais, a Volta à Bulgária, onde deverá estar a Tavira-Prio com André Cardoso (as restantes equipas, já terminaram a época).

Então, se fosse eu a elaborar a convocatória para a Volta a Tenerife e os Campeonatos do Mundo, teria levado Sérgio Ribeiro á prova canária para depois estar no Mundial, tal como André Cardoso, Manuel Cardoso, Rui Costa e Bruno Pires. Para completar a equipa seria o Nelson Oliveira, já que é um dos nossos melhores contra-relogistas e assim escusava-se de levar alguém apenas para o contra-relógio. Esta seria uma equipa com homens que poderiam estar bem na parte final, como Manuel Cardoso, Sérgio Ribeiro e até mesmo Rui Costa, com um fundista como André Cardoso que se poderia adaptar bem no caso da corrida se tornar mais dura do que esperado, e com Bruno Pires e Nelson Oliveira para ajudarem os seus colegas (apesar de não ser expectável que o Nelson termine a prova, pelos motivos já apresentados).

Partindo do princípio que o Sérgio Ribeiro não entra nas contas do José Poeira para Copenhaga e que assim se perde um dos melhores finalizadores, o seu “substituto” dependerá de como decorrer a Volta a Tenerife. Para o contra-relógio, uma vez que o Tiago Machado já fez saber que não estará presente, idealmente as duas vagas são para Rui Costa e Nelson Oliveira. Se algum deles não poder ou não quiser participar, a vaga deveria ir para Ricardo Mestre ou Hernâni Brôco, podendo qualquer um deles dar uma ajuda na prova em linha aos colegas mais rápidos. Contudo, olhando à equipa escolhida para Tenerife, Mestre leva vantagem sobre Brôco.

Agora é vez dos leitores! Quem é que escolheriam para participar no Mundial?

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E quando acabo de escrever sobre o tema principal deste artigo, vejo que o César Fonte venceu a segunda etapa da Volta a Tenerife, com final numa contagem de segunda categoria. Parabéns para ele, que tão bem tem estado depois da Volta a Portugal!

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E ontem o Sérgio Paulinho esteve em evidência na Volta a Espanha, entrando na fuga do dia e terminando em quinto lugar. Pareceu-me um erro atacar tão longe da meta, com bons trepadores no grupo, mas pelo menos mostrou a ambição e atitude que tantas vezes lhe falta. Podem estar certos de que quando critico algum português por falta de atitude, não me importo rigorosamente nada que no dia seguinte ele esteja ao ataque e me tire todos os motivos para o criticar. Aliás, muito gostaria eu de poder olhar para o ciclismo português e para os ciclistas nacionais e que nada lhes houvesse a criticar. Que siga assim!

4 comentários:

  1. Por mais blogs que leia acaba por ser o teu que mais gosto me dá a ler.
    Se tivesse que ser eu a selecionar os 6 ciclistas para a prova de estrada seriam:o Sérgio Ribeiro pelo brilhante desempenho que teve na Volta a Portugal assim como em outras competições, acho um sprinter fantástico que anda muito nas montanhas.
    O Manel Cardoso já teve alguns bons resultados esta época ganhando uma etapa da Volta a Catalunha e ficou em segundo se me recordo em outra competição sendo só batido pelo Boassen Haggen.(São os dois melhores sprinters portugueses).
    Para lançadores levaria o Filipe Cardoso fez grandes lançamentos para o Sérgio Ribeiro, esteve muito bem este ano.)Talvez também o Samuel Caldeira apesar de não ter feito uma grande Volta (fez 3 em uma etapa) leva-o.
    O quinto elemento seria o André Cardoso, esteve sempre bem nos Mundiais e o outro elemento ainda não sei bem.(Talvez o Sérgio ou o Rui, o Brôco.)
    Para o contra-relógio o Tiago Machado, o Nélson (apesar de estarem com algum cansaço) e o Ricardo Mestre.

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  2. As minhas escolhas:


    prova de estrada - Sérgio Ribeiro, Filipe Cardoso, André Cardoso, Manuel Cardoso, Rui Costa e a grande dúvida o 6º elemento..Ricardo Mestre ou Bruno Pires um destes dois seria.


    Contra relógio - Nélson Oliveira e/ou Ricardo Mestre

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  3. Eu levaria para a prova de contra-relógio o Nelson Oliveira e o Rui Costa. E para a prova em linha o André Cardoso, o Manuel Cardoso, o Rui Costa, o Bruno Pires, o César Fonte e o Nelson Oliveira. A inclusão do César Fonte em detrimento do Sérgio Ribeiro deve-se apenas ao facto do Sérgio não ter competido após a Volta a Portugal já devendo estar fora de forma. A contenção de custos levaria a que os participantes no contra-relógio participassem igualmente na prova em linha.

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  4. Tendo em conta as condicionantes, eu levaria para o CR o Nelson Oliveira e o Rui Costa. Para a prova em linha levava o Nelson Oliveira, Rui Costa, Ricardo Mestre, Manuel Cardoso, André Cardoso e o Filipe Cardoso.

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