quinta-feira, 17 de abril de 2014

Amstel Gold Race: tempo de outros protagonistas

Amstel Gold Race, dia muito aguardado pelos adeptos holandeses
Foi bom enquanto durou, mas a época de pavés já lá vai. É agora tempo dos homens do ciclismo flemish passarem o protagonismo para outros corredores e essa mudança acontece no próximo domingo na Amstel Gold Race.

Percurso

A Amstel Gold Race apresenta 251 quilómetros num percurso com 34 colinas, que leva os ciclistas a passarem várias vezes em alguns locais e se torna bastante agradável para o público, podendo assim desfrutar do espetáculo mais do que uma breve passagem. São colinas curtas mas é um constante sobe-e-desce que vai massacrando o pelotão

Os corredores terão a terceira passagem pelo Cauberg a 21 quilómetros da meta - onde Roman Kreuziger saltou para a vitória no ano passado - depois mais duas colinas à falta de 16,5 e 7,8 e finalmente a quarta passagem pelo Cauberg (1,5 km a 5% de média), com 1800m ainda por percorrer.

A mudança verificada no ano passada, com a meta a avançar e distanciar-se do Cauberg, tornou a corrida ainda mais aberta.



Um fato à medida de muita gente

Como pode a mesma prova ter sido vencida por ciclistas tão diferentes como Erik Zabel (2000) e Davide Rebellin (2004) ou Frank Schleck (2006)?

A Amstel Gold Race tinha um final mais acessível até 2002, mas em 2003 mudou a meta para o topo do Cauberg, um final que favorecia os homens talhados para subidas curtas. Porém, a Amstel Gold Race tinha o atrativo das colinas prévias, muitas vezes com um papel importante no desfecho da prova, algo que não acontece por exemplo com a Flèche Wallone.

Depois dos Mundiais de 2012, a meta da AGR teve o tal avanço já referido. Se a Volta a Flandres ou o Paris-Roubaix são provas para um ciclistas com características muito particulares, a clássica da cerveja é um fato à medida de muita gente. Os homens de grande aceleração nas subidas curtas podem atacar no Cauberg e pedalar até à meta como fez Gilbert quando se sagrou campeão mundial. Nessa mesma prova, Boasson Hagen (2º) e Degenkolb (4º) mostraram que o percurso também serve a um tipo de ciclistas mais pesados. E Roman Kreuziger relembrou no ano passado que a Amstel Gold Race também se pode ganhar com um ataque de longe.

Favoritos

Alejandro Valverde iniciou a temporada com sete vitórias, todas elas em provas .1 (terceira categoria internacional). É uma pena que um ciclista desta qualidade tenha evitado o Paris-Nice, Tirreno-Adriático ou Volta à Catalunha, pois é sempre mais interessante para os adeptos ver os melhores a lutarem entre si. Valverde compareceu sim no País Basco com três segundos lugares em etapas que atestam o seu excelente estado de forma. Segundo no ano passado, terceiro nos Mundiais de 2012 com este mesmo final, Valverde é um dos grandes candidato a vencer. Algo que já conseguiu na Flèche Wallone e em Liège mas nunca na prova que abre a semana.

Michal Kwiatkowski, um dos homens mais destacados no arranque de temporada, foi segundo no País Basco e terceiro em cinco das seis etapas da prova, o que demonstra uma regularidade e versatilidade impressionante. E o polaco ainda destaca que o seu objetivo são as provas das Ardenas. Este ano não esteve nas provas de pavé (até porque a Omega Pharma tinha líderes mais capazes sobre as pedras) e fez trabalho específico para esta semana que se avizinha, não para o País Basco.

Campeão mundial neste final, é impossível não contar com Philippe Gilbert para esta prova que venceu por duas vezes consecutivas. A última delas em 2011, quando era um monstrinho e conquistou dezoito vitórias (mais que os sprinters) entre meados de fevereiro e meados de setembro, nunca estando mais de cinco semanas sem vencer, ou seja, sem descanso. Agora mais humano, apenas conquistou 5 vitórias desde Janeiro de 2012 (28 meses), mas este ano abdicou do Tour Down Under e das provas de pavé para se focar nas Ardenas. Ontem venceu a Flecha Brabante, antecâmara da Semana das Ardenas. A BMC tem também Greg Van Avermaet, mas este vem de um período desgastante com grandes prestações sobre o pavé.

Talvez um dos nomes mais surpreendentes entre estes seja Tom-Jelte Slagter. O holandês da Garmin, apontada aqui com um dos jovens a seguir em 2012 e vencedor do Tour Down Under 2013, começou muito bem esta temporada com duas vitórias de etapa no Paris-Nice e, não fosse um problema mecânico na sexta etapa, muito provavelmente teria terminado no pódio. Também na Volta ao País Basco mostrou ser um dos melhor no que toca à combinação de capacidade para pequenas subidas e ponta final, características fundamentais para esta prova.

Simon Gerrans tem estado mais apagado nos últimos meses que os anteriormente citados, mas pelas suas características e o seu histórico (3º em 2011 e 2013) é um dos mais fortes candidatos. Em janeiro venceu o Tour Down Under e, após um período de descanso planeado, poderá voltar ao seu melhor.

Depois há um enorme leque de homens com hipóteses de vencer e suceder aos supreendentes Enrico Gasparotto e Roman Kreuziger, dois ciclistas que, apesar da sua qualidade e resultados apresentados em edições anteriores da prova, dificilmente seriam apontados como candidatos às edições que conquistaram. E fizeram-no de forma bem diferente. Além de Gasparotto, a Astana conta ainda com Jakob Fuglsang e Vincenzo Nibali, que tem o hábito de atacar de longe, fazer pela vida e quase venceu a Liège-Bastonge-Liège 2012 (foi 2º) dessa forma.

A Lampre conta com três perigos como são Rui Costa, Diego Ulissi e o vencedor de 2008 Damiano Cunego. Falta saber como será a ligação entre eles na estrada. A Katusha com o Joaquim Rodríguez e Daniel Moreno, dupla que já mostrou que se entende muito bem. Purito foi segundo na AGR 2011 e tem um histórico louvável nas Ardenas, enquanto o seu companheiro tem um histórico mais modesto mas no ano passado venceu a Flèche Wallone. Apesar das várias diferenças entre as duas provas, é um indicador do que Moreno poderá fazer caso tenha liberdade.

Bauke Mollema, Arthur Vichot, Simon Geschke, Ben Swift e Bjorn Leukemans - outro sempre agressivo e muito regular - terminam aqui uma lista que na estrada é interminável. Se a Volta a Flandres e o Paris-Roubaix são corridas para especialistas e com uma possibilidade de surpresa relativamente moderada, a Amstel Gold Race tem uma probabilidade de surpresa tão grande que, bem-vistas as coisas, nada deve surpreender. Até porque a Volta a Flandres é antecedida por provas como o Omloop, o E3 ou a Através de Flandres que permitem ver o estado de forma dos ciclistas. Para a Amstel Gold Race a única corrida que pode fazer esse papel é a Flecha Brabante, onde poucos dos favoritos alinham.

***** Valverde e Kwiatkowski
**** Gilbert, Slagter e Gerrans
*** Rodriguez, Cunego, Costa, Mollema e Moreno
** Kreuziger, Swift, Ulissi, Vichot, Van Avermaet, Nibali, Fuglsang, Geschke e Leukemans

Chave-da-corrida

Numa corrida que se pode vencer com um ataque de média distância ou num sprint relativamente numeroso, o melhor será esperar para ver se alguma equipa assume a corrida ao ponto de a levar para o tal sprint. No ano passado esperaram demasiado da Cannondale, temendo Peter Sagan, e a equipa italiana não foi capaz de dar conta do recado. Aproveitou um sagaz Roman Kreuziger.

*****
Vários credores da João Lagos Sport, ex-organizadora da Volta a Portugal, apresentaram no Tribunal de Comércio de Lisboa pedido de insolvência da empresaSempre existiram dúvidas sobre a rentabilidade deste organizador de eventos mais próximo da revista Caras do que de um jornal desportivo. Agora sabe-se que o panorama é mesmo negro, com a empresa muito endividada e em Processo Especial de Revitalização (PER).

De resto, a empresa Rádio Popular também está em Processo Especial de Revitalização (ou estava e já não está?) e tal não impediu que continuasse como patrocinador principal de uma equipa de ciclismo. Podem imaginar em que condições.

*****
Luís Horta está de saída da Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) depois de uma presidência de largos anos.

Muitas vezes o caminho de Luís Horta se cruzou com o ciclismo por motivos óbvios. Nos últimos anos destaca-se o final da LA-MSS-Póvoa, quando as brigadas da ADoP (ex-CNAD) e da Polícia Judiciaria fizeram buscas e encontraram várias farmácias nas casas de vários ciclistas da equipa. A equipa terminaria no final desse ano e todos os ciclistas que foram revistados nesse dia já terminaram carreira, embora alguns sejam agora treinadores pessoais de ciclistas ou estejam ligados ao ciclismo de formação. O o único português que não foi revistado e continua no ativo está no World Tour.

Recentemente também foi muito criticado no jornal ciclismo espaço do movimento anti-antidoping.

Pela negativa, Luís Horta nunca conseguiu impedir as fugas de informação, o que permitia que alguns ciclistas soubessem dos controlos surpresa com antecedência. E presumo que o mesmo se passasse noutros desportos, mas daí já não conheço casos.

E porque vai afinal o Dr. Luís Horta sair da ADoP. Por mérito. Porque recebeu uma proposta do Brasil, à beira da Copa e dos Jogos Olímpicos.

*****
Os colombianos Járlinson Pantano, Carlos Julián Quintero e o campeão nacional Miguel Ángel Rubiano não obtiveram visto que os autorizasse a sair da Colômbia. O Giro d'Itália está praticamente descartado para eles. E Team Colombia recebe apoio do Estado.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Share