quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Vuelta 2014: do favoritismo de Quintana ao regresso de Contador

A Volta a Espanha é a última grande volta e o último grande objetivo da temporada para os voltistas. Por isso muitos responderam à chamada, quase todos eles à procura que uma glória que lhes faltou até agora na temporada. Quintana e Urán voltam a encontrar-se depois do Giro, Contador e Froome depois de abandonarem o Tour, Valverde e Rodríguez ambicionam ser mais uma vez protagonistas e motivos de interesse não faltam para as próximas três semanas.

Nairo Quintana apresenta-se como o mais forte candidato à vitória. Afrontará a Vuelta com a confiança fortalecida depois da vitória na Volta a Itália, procurando repetir a dobradinha Giro-Vuelta de Contador em 2008.

Se para outros a Vuelta é um recurso depois de falharem no Tour, para Nairo Quintana é um objetivo traçado desde o início do ano e preparado desde o final do Giro, primeiro com o necessário período de recuperação e depois com a carga de treinos com vista a melhoria física. Também por isso a sua candidatura à vitória final me parece a mais sólida, e é apoiada por uma equipa muito forte. Na última semana venceu a Volta a Burgos.

Dentro da Movistar habita outro candidato, Alejandro Valverde, que desperdiçou este ano a maior oportunidade da sua carreira de subir ao pódio do Tour mas é um valor seguro no que à Vuelta diz respeito. Venceu em 2009 e subiu ao pódio nas duas últimas participações, falhando pelo meio apenas devido a suspensão.

A forma para a Vuelta é mais difícil de antever do que para Giro e Tour, para as quais Giro del Trentino ou Volta à Romandia e Dauphiné ou Suíça servem de antecâmara. O único teste à forma antecede a Vuelta é a Volta à Burgos e poucos dos favoritos participam. Mais difícil ainda é antever a forma de Alberto Contador e Chris Froome, que não competem desde que abandonarem lesionados o Tour, onde eram os dois principais favoritos à partida. A capacidade de ambos nas melhores condições é por demais reconhecida, mas a condição atual uma enorme incógnita.

Uma queda grave em abril afastou Chris Horner do Giro e direcionou-o para o Tour, onde esteve distante do nível mostrado na Vuelta 2013. Mas o grande objetivo da temporada está nas próximas três semanas e passa por repetir esse triunfo que foi o maior da sua já longuíssima carreira. Vem de um segundo posto na Volta a Utah, precisamente o mesmo obtido no ano passado na preparação para a Volta a Espanha. É difícil acreditar na sua vitória, mas mais ainda era no ano passado. Se aos 42 anos esteve no topo da sua carreira, aos 43 pode repetir e aos 45 conquistar o Tour.

Rigoberto Urán chega a esta Vuelta com uma (mais uma) grande prestação no Giro, do qual saiu com o segundo lugar, mostrando também que há vida depois do Céu (Sky). Contra si tem o facto de nunca ter conseguido andar bem em duas grandes voltas no mesmo ano, mas talvez por isso mudou o programa. Em vez da habitual presença na Volta à Polónia, este ano correu o Tour de l'Ain.

Nome para o qual não pode faltar a referência numa antevisão da Vuelta é Joaquim Rodríguez, que nas últimas quatro edições conseguiu sete vitórias de etapa, um número muito interessante para alguém que não é sprinter, e a eles soma dois terceiros lugares na geral. Está a ter uma temporada muito aziaga, com quedas e abandonos nas Ardenas e depois queda e abandono no Giro, os seus grandes objetivos para a primeira metade da temporada. Fui crítico desde o início quanto à sua participação no Tour, onde acabou por estar longe da sua melhor forma física, falhando os seus objetivos e as expetativas dos seus adeptos. Veremos agora se não pagará o esforço na Vuelta. Apesar de não ter completado o Giro, teve o desgaste de toda a preparação de inverno e primavera.

Ao contrário de Rodríguez, Daniel Martin optou por abdicar do Tour e preparar-se para estar a 100% na Vuelta depois da sua desistência no Giro, ainda na primeira etapa. Foi terceiro esta semana no Tour de l'Ain, apenas superado por Bert-Jan Lindeman, que surpreendeu através de uma fuga, e de Romain Bardet, que foi o mais forte nas montanhas.

A Belkin apresenta Robert Gesink, que foi 8º na Volta à Polónia já depois da cirurgia ao coração, e Wilco Kelderman, 7º no Giro e 4º no Critérium du Dauphiné. Veremos se o jovem de 23 anos já tem estofo para juntar uma boa performance na Vuelta a uma temporada de enorme qualidade (independentemente do que aconteça na Vuelta). Também estarão presentes os terceiros no Giro e Tour, Fabio Aru e Thibaut Pinot, mas espero mais do italiano do que do francês, para quem não deve ter sido fácil manter o foco e a concentração nos treinos depois do feito alcançado no Tour.

À parte dos candidatos ao pódio, aguardo com particular curiosidade para ver o rendimento de Tanel Kangert, 14º no Giro 2013, 11º na Vuelta 2013 e 20º no recente Tour mas sempre a trabalhar para Vincenzo Nibali, parecendo-me que ainda não vimos tudo o que tem para dar.

Jovens

Quem tem acompanhado as últimas provas pode ter reparado na quantidade de jovens que tem aparecido em destaque nas últimas semanas, como costuma acontecer nesta altura do ano. Pode ser porque há mais corridas e com isso mais oportunidades, pode ser porque as grandes estrelas estão a recuperar do Tour ou a preparar a Vuelta, ou pode ser por estarem mais maduros que no começo da temporada. Mas tivemos o Eneco Tour vencido por Tim Wellens (Lotto, 23 anos) com Tom Dumoulin (Giant, 23) em terceiro e vitórias de etapas de Wellens, Dumoulin e Guillaume Van Keirsbulck (Omega, 23). Tivemos ainda uma etapa para Vokoc (Omega, 22) na Polónia, uma etapa para Alaphilippe (Omega, 22) em Ain e geral da Volta à Dinamarca para Michael Valgren (Tinkoff, 22 anos). Sem falar de Quintana ou Bouhanni, dois nomes já bem seguros apesar da juventude.

Na Orica-GreenEdge estão os dois jovens que maiores probabilidades apresentam para despontar nesta Vuelta. Adam Yates, com 22 anos cumpridos este mês, venceu a Volta à Turquia, foi 5º na Califórnia e 6º no Critérium du Dauphiné, resultados que comprovam o enorme potencial que já lhe tinha sido diagnosticado antes de passar a profissional. E Esteban Chaves, de 24 anos, vencedor de etapas de montanha na Califórnia e Volta à Suíça, que tem a Vuelta como grande objetivo da temporada. Depois da grave lesão sofrida no ano passado, a Orica optou por traçar um programa cauteloso para o colombiano, dando-lhe toda a temporada para recuperar e preparar-se para a Vuelta. Apesar das grandes vitórias já obtidas, a sua melhor forma da temporada apenas agora deverá aparecer.

A MTN, primeira equipa africana a participar numa grande volta, apresenta o vice-campeão mundial sub-23 Louis Meintjes e o eritreu Merhawi Kudus, que tem um nível inexplicável para alguém de apenas 20 anos. É muito jovem e consequentemente falta-lhe experiência, pelo que será normal se passar despercebido nesta Vuelta, mas com 19 anos foi 11º na Volta a França do Futuro do ano passado. Com a margem de progressão que sempre se perspetiva a um jovem desta idade, é impossível colocar limites a Kudus.

Warren Barguil, vencedor de duas etapas na Vuelta do ano passado, teve que ver as excelentes performances de Pinot e Bardet no Tour desde o sofá. Os franceses estarão expectantes depois da excelente prestação na última edição e desta feita correrá para a classificação geral, podendo aspirar a um lugar entre os dez melhores.


Sprinters


Não é fácil a vida de sprinter na Vuelta. Os maiores especialistas não estão dispostos a um esforço de três semanas com tantas chegadas em alto para tão poucas oportunidades de lutarem eles pelo protagonismo. Se por um lado se lamenta a ausência de Kittel, Greipel e Cavendish, por outro lado teremos a oportunidade de novos nomes surgirem.

Foi o que aconteceu em 2012 com John Degenkolb a vencer cinco etapas, e o alemão regressa agora com um estatuto diferentes dentro do pelotão. Nacer Bouhanni, Peter Sagan e Michael Matthews são os outros nomes de maior destaque para as chegadas ao sprint. Revelações poderão ser Moreno Hofland, que leva cinco vitórias este ano e pelo meio dois meses e meio fora de competição devido a uma queda grave, e o campeão belga Jens Debusschere.

Será a primeira grande volta de Andrea Guardini desde o Giro de 2012, ou seja, desde que se mudou para a Astana.

***** Quintana
**** Contador, Froome e Horner
*** Valverde, Urán e Rodríguez
** Dan Martin, Gesink, Kelderman, Aru

Possíveis surpresas: Adam Yates, Chaves, Barguil, Meintjes e Kudus

André Cardoso e Sérgio Paulinho são os portugueses em prova.

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